Faz dias "me devo" este prazer. Percorrer uma cidade onde se morou muito tempo, agora como visitante, é estranho mas tem as suas bondades. Faz quase duas semanas reencontrei duas amigas, duas mulheres mais novas do que eu com pensamentos claros sobre a vida. Caminhei uma barbaridade essa tarde para dar com elas: do Pátio Brasil à SQS. 210 (em nomenclatura candanga isso significa várias superquadras, eixos, eixinhos, "westes" e "lestes" pela frente). Num empório/deli perto do qual moramos (meu esposo, a filhotada e eu), conversamos sobre o tumulto que cada uma vive, sobre o caos que nos rodeia (ou dentro do qual nos sentimos), sobre a necessidade de abrir brechas num mundo confuso.
Com tudo e a diferença de idades (sei que elas não me veem tão mais velha mas sinto que dez anos é alguma coisa), três mulheres jovens sintonizamos nossas intuições para tentar compreender algo. Cada uma escutando e abrindo o peito para as outras. Foi fantástico vê-las e escutá-las dizer: "me-ni-na, que saudade... como você tá linda!". Penso na cena e rio. Ficamos em ir ao cinema. Uma das primeiras coisas que fiz ao pissar o DF foi correr tras Julia Roberts. Nunca deixaria na mão, porém, duas mulheres como estas com vontade de ver "Comer rezar amar". Se vamos, talvez choremos. A idéia aliás é ver o filme, contribuir à discussão com uma dose mínima de álcool (já houve problemas com a justiça por causa dos excessos) e vamos que para amanhã é tarde, hehehe. Se a hora de me despedir sem que a telona se concretice chega, a lembrança dessa noite de domingo na Asa Sul, afogando as mágoas em água com gás, terá valido a pena.
lunes, octubre 25, 2010
domingo, octubre 24, 2010
[16 de 365] - desprender-se da fuselagem
Um filme visto em duas levas: entre a noite de hoje e a de ontem. Dos roteiristas Ramin Bahrani e Bahareh Azimi, "Good bye solo" vai fundo no tema do entendimento humano (o que os outros nos levam a observar, a repensar). Um estadunidense desolado na casa dos 70 e um taxista senegalês que sonha com ser comissário de bordo e fala perto de 14 línguas (inglês, francês, waloof, espanhol e dez dialetos africanos). A observação das personagens é o ponto forte da narração. William anota enquanto Souleymane suspeita e age. William perdeu a fé enquanto Souleymane sente -apesar dos reveses- que as coisas podem mudar. Um diálogo-chave [que adquire novo significado no final] me ajuda a fechar este post. A lentidão tem seus benefícios:
WILLIAM (fazendo um teste para Solo, dentro do taxi, no banco da frente, à noite):
“Na retirada de passageiros sobre água, quais os seis passos que o comisário deve seguir?
SOLO:
Um: formar uma barreira.
Dois: analisar a situação e se redirecionar para desbloquear as saídas.
Três: abrir as portas e inflar as rampas.
Quatro: ao abrir a porta de saída para retirar os passageiros, girar a alavanca na direção da seta e empurrar a porta com força para que ela se desprenda da fuselagem”.
domingo, octubre 17, 2010
[15 de 365] - "boas migas"
O prazer de hoje -um que vem se preparando silenciosamente- tem a ver com um tema que acho difícil de praticar. Uma antioquenha belíssima me disse uma vez que não se deve exigir infinitude das amizades. Penso nisto, curiosamente, hospedada na casa de uma família altamente solidária. Pode-se ter amigos de 15 minutos como amigos para a vida toda. Demorei... mas acredito ter entendido a moral da história.
Faz mês e meio, mais ou menos, conheci uma pessoa pelo Facebook. Começava a desligar-me de uma cidade querida. Vi uma toma feita por ela numa exposição do Museu Nacional da República e pensei: por que não entrar em contato? Fato: entrei em contato e o "risco" me conduziu a uma mulher fantástica, sensível à arte e ao tema familiar.
Conhecer alguém -o que se diz conhecer- é algo que acontece devagarinho. Sinto-me feliz de ter dado esse primeiro passo. Para "começar", aliás, inventamos um "petit tour expositif". Começamos pelo lugar que me levou a pensar em lhe conhecer: o Museu Nacional da República (quase nem acredito nesse ciclo). Vimos a mostra "Estilo de vida - Lifestyle" do israelense David Gerstein. Vibramos com os paineis tridimensionais -cheios de cor e detalhes- colados nas paredes. Dimos uma olhada na exposição "Brasília - Chandigarh" (fotografias feitas por Stéphane Herbert), um passeio pelas idéias de Le Corbusier. Mais uma olhada na "Brasília submersa" de Beto Barata. Espera-se mais de uma montagem no anexo do Museu Nacional da República mas o escafandro, os objetos encontrados lá embaixo, a toma terrorífica da boneca-vodu e a mesa (fantasmalmente servida) no fundo do lago Paranoá, valeram o invento.
Passamos às curvas das esculturas em bronze de Ricardo Stumm ("Além dos limites") na Caixa Cutural. Seguimos pela retrospectiva de Zaven Paré ("CyBer Art"). Fizemos um intervalo no café e fechamos no Átrio dos Vitrais diante da vida de Orlando Villas-Bôas. Algum dia compartilharei uma foto dela (feita por ela) para que o mundo virtual comprove o que eu vi. O que eu vejo. "Tento cultivar as minhas afinidades", lhe comentei durante a saída, num momento de franqueza. Lema ou não lema é algo que quero me dar de presente ainda nesta vida.
Fiquei com um dever de casa: encontrar mais alguma exposição/ções para ir juntas antes de me despedir de novo. "Dar um rolê", como ela disse, hehehe. Tenho duas em mente. Logo logo entro em contato com mais idéias. O prometido é dívida e conhecer pessoas, "cultivar as afinidades", definitivamente faz bem.
PS. Enquanto descubro a expressão equivalente de "boas migas" em português, mantém-se o título deste post.
Faz mês e meio, mais ou menos, conheci uma pessoa pelo Facebook. Começava a desligar-me de uma cidade querida. Vi uma toma feita por ela numa exposição do Museu Nacional da República e pensei: por que não entrar em contato? Fato: entrei em contato e o "risco" me conduziu a uma mulher fantástica, sensível à arte e ao tema familiar.
Conhecer alguém -o que se diz conhecer- é algo que acontece devagarinho. Sinto-me feliz de ter dado esse primeiro passo. Para "começar", aliás, inventamos um "petit tour expositif". Começamos pelo lugar que me levou a pensar em lhe conhecer: o Museu Nacional da República (quase nem acredito nesse ciclo). Vimos a mostra "Estilo de vida - Lifestyle" do israelense David Gerstein. Vibramos com os paineis tridimensionais -cheios de cor e detalhes- colados nas paredes. Dimos uma olhada na exposição "Brasília - Chandigarh" (fotografias feitas por Stéphane Herbert), um passeio pelas idéias de Le Corbusier. Mais uma olhada na "Brasília submersa" de Beto Barata. Espera-se mais de uma montagem no anexo do Museu Nacional da República mas o escafandro, os objetos encontrados lá embaixo, a toma terrorífica da boneca-vodu e a mesa (fantasmalmente servida) no fundo do lago Paranoá, valeram o invento.
Passamos às curvas das esculturas em bronze de Ricardo Stumm ("Além dos limites") na Caixa Cutural. Seguimos pela retrospectiva de Zaven Paré ("CyBer Art"). Fizemos um intervalo no café e fechamos no Átrio dos Vitrais diante da vida de Orlando Villas-Bôas. Algum dia compartilharei uma foto dela (feita por ela) para que o mundo virtual comprove o que eu vi. O que eu vejo. "Tento cultivar as minhas afinidades", lhe comentei durante a saída, num momento de franqueza. Lema ou não lema é algo que quero me dar de presente ainda nesta vida.
Fiquei com um dever de casa: encontrar mais alguma exposição/ções para ir juntas antes de me despedir de novo. "Dar um rolê", como ela disse, hehehe. Tenho duas em mente. Logo logo entro em contato com mais idéias. O prometido é dívida e conhecer pessoas, "cultivar as afinidades", definitivamente faz bem.
PS. Enquanto descubro a expressão equivalente de "boas migas" em português, mantém-se o título deste post.
domingo, octubre 10, 2010
[14 de 365] - "Comer, rezar, amar"
O de ontem: ir ao cinema de manhã. Sempre gostei da possibilidade, primeiro em sonhos e depois na vida. "Comer, rezar, amar" nao é um filme feito para chorar. Num dia equilibrado, só teria rido. Aproveitando a solidão me acabei no chororo, hehehe. A história fez-me pensar. Fez-me sentir algo que pratico cada vez que posso: alimentar-se bem (desfrutar os alimentos, o prato, a apresentação) é uma dádiva. Fiquei pensando na sensação que irradia o equilíbrio individual. O toque brasileiro não convence mas Bardem vale a ida ao cinema. Julia Roberts está fantástica.
viernes, octubre 08, 2010
[13 de 365] - os guardiões ga'hool
Ter voltado ao cinema com uma dose de segurança. O filme (cuja publicidade impressa e quotidiana descrevem como "chatinho", "desnecessariamente científico"): "A lenda dos guardiões". As denominações não me pareceram incompreensíveis. Nem o filme chato. Por 100 minutos estive frente a um conto anglo-saxão que valoriza o ato de narrar. As personagens: Soren, Kludd, Eglantine, Twilight, Digger, Gylfie e por ali vai. Uma história épica, simples e linda (deu-me a impressão de permitir uma leitura alegórica; uma forma de discutir o regime autoritário no público infanto-juvenil). E, sim, foi um pequeno prazer tristemente longe do meu atual "centro".
martes, octubre 05, 2010
[12 de 365] - no alvo
Aos poucos retomo os pequenos prazeres. O de hoje está fresquinho: apresentei um trabalho na Universidade de São Paulo [no II Colóquio Osman Lins]. Demorei para caramba em chegar àquelas conclusões. Resultado [por primeira vez]: um feedback generalizado e a comprovação de estar no meu elemento, hehehehe. É uma forma de dizer que me sinto bastante conforme com o sangue, suor e lágrimas do papel de trabalho que consegui fazer (e apresentar hoje de manhã). Apareceram dúvidas e temas novos para pesquisar. Temas não abordados e temas incompletamente abordados. Entrevejo um processo quando isso acontece. Daqui a três horas será um novo dia. Outros desafios virão. Tomara que uma determinação ímpar se espalhe ao meu redor.
lunes, septiembre 27, 2010
[11 de 365] - descarte
A medicina venezuelana não tem comparação. Temos excelentes científicos, pesquisadores e profissionais. Consulta com o traumatologista, o mesmo faz 19 anos. Um especialista amável, bom escuta, alegre e sábio. Thanks a lot, doc! Descartada a falsa alarme de escoliose [diagnóstico irresponsável meses atrás]. Tratamento e exercício para o resto. E paciência que a melhora chega. Nenhuma crise é para sempre.
[10 de 365] - primeira tentativa
Ver à pessoa amada se arriscando num novo projeto de vida. Parabéns amor!
[9 de 365] - adrenalina
Tensão pre-eleições parlamentares após erro maiúsculo em 2005. 21h. Dizem que o primeiro avanço não demora. 21h30. Jornalistas a seus postos. 22h15. Nada do boletim. 22h40. 23h10. Piscadela e susto; ainda bem que não deram o boletim! 00h25. 00h50. Paciência. 1h. Ele dorme. 2h. Adrenalina a mil. 2h02. Cinco na mesa [quatro mulheres, uhuuu!], preside Tibisay Lucena. O poder eletoral [representado no Conselho Nacional Eleitoral/CNE] consegue uma somatória. O resultado é qualificado como "irreversível", entendo bem o emprego do termo. Prefiro assumí-lo como "definitório". Um novo jogo tem cabimento. Das 2h às 4h: atenção aos resultados, às análises. 3h: torpedo para minha mãe. Dorme mas preciso comentar algo, apesar da virtualidade da noite. Sei que muitos estão como eu, o confirmei hoje na consulta médica. Muito boa a cobertura dos três comentaristas de VTV, meus parabéns aos jornalistas Pedro Márquez e Dair [Ral?]: 95 vs. 60 + 2 + 1. Observo o resultado como uma mudança positiva. A norma é/tomara que seja progredir.
viernes, septiembre 24, 2010
[8 de 365] - à noite
O processo, reiterado, de colocar o ponto final. Respirar melhor. Imprimir. Grampear. Ler para alguém. Ler para mim. Introduzir correções. Ler de novo para mim e finalmente enviar. Acontece à noite [e de madrugada]. Não tem preço.
jueves, septiembre 23, 2010
[7 de 365] - quase sempre à noite
Celebrar a decisão corajosa de uma irmã [a única], por cima do próprio pesar.
miércoles, septiembre 22, 2010
martes, septiembre 21, 2010
lunes, septiembre 20, 2010
sábado, septiembre 18, 2010
[2 de 365] - amolar a navalha
Tecer os fios de uma argumentação, perto de trechos como este:
"Observando Vicente, meu barbeiro, no ofício há mais de vinte anos, amolar a navalha na correia, pergunto em quanto tempo aprendeu a fazê-lo.
-Dez anos.
-Com sete ou oito, ainda não sabia?
-Não, e alguns barbeiros não aprendem nunca.
-Como é que você sabe que a navalha pegou o fio?
-Sinto na mão. Mesmo de olhos fechados.
Amolar navalhas, então, evoca a arte de escrever: pelo que exige do praticante, em exercício e paciência; e pelo modo como o fio se revela, tão semelhante à maneira como o escritor, amolando a sua frase, perceve (também na mão?) ter alcançado o que busca" [Osman Lins: "A Rainha dos cárceres da Grécia", pp. 96-97]
"Observando Vicente, meu barbeiro, no ofício há mais de vinte anos, amolar a navalha na correia, pergunto em quanto tempo aprendeu a fazê-lo.
-Dez anos.
-Com sete ou oito, ainda não sabia?
-Não, e alguns barbeiros não aprendem nunca.
-Como é que você sabe que a navalha pegou o fio?
-Sinto na mão. Mesmo de olhos fechados.
Amolar navalhas, então, evoca a arte de escrever: pelo que exige do praticante, em exercício e paciência; e pelo modo como o fio se revela, tão semelhante à maneira como o escritor, amolando a sua frase, perceve (também na mão?) ter alcançado o que busca" [Osman Lins: "A Rainha dos cárceres da Grécia", pp. 96-97]
viernes, septiembre 17, 2010
[pequenos prazeres | pontapé]
Sexta-feira é um bom dia para começar uma jornada anual. Dias atrás pensei em empreender este projeto para contestar um down profundo que ao invés de passar (pois não passa), sinto transparecer em cada ação que acometo. Com receio de esquecer um poderoso aprendizado, lanço mão da língua portuguesa (pre-acordo ortográfico) apesar de não ser o meu berço natural. Por que -me perguntava- não criar um "diário de pequenos prazeres" talvez tendo em mente [em corpo, alma e verbo] a claridade de ao menos um bem-estar diário? Talvez apostando que a núvem passe e deixe o céu claro, sem pressão de tempo estipulado. O adjetivo "pequeno" não qualifica a intensidade da vivência. Pequenos são não por insuficientes mas por rotineiros. Comentar a vida intra-muros também não é a minha praia. O "mar" do meu nome fala do paradoxo vivente que sou: adoro me comunicar bem (tentar entender e tentar explicar) mas chego a ser tão contida que meus familiares adquiriram o dom da especulação bem-direcionada. Não pretendo reproduzir a fórmula "eu, eu, eu" mas as possibilidades do diário, dada a circunstância, não vêm mal. Quero avaliar minha persistência e, sobretudo, observar essa capacidade mágica de renovação que mora em todo ser humano. A extensão do texto fica por conta do universo. É a pauta sem pauta. A foto não é obrigatória mas como adoro esse diálogo, postarei testemunho visual quando o tempo o permita. Pronto, falei. Escreverei aqui ao invés e ligar ou enviar pedidos de auxílio a cálidos interlocutores. O dia é hoje e aqui vai o prazer inicial:
[1 de 365] - product of Thailand
Dar continuidade a um fascinante experimento gastronômico e que resulte em algo comestível, presentável e alegre para o gosto. Levo um chef na minha cabeça mas quando vou colocar a teoria a prova, o resultado não fica nem tão saboroso nem tão bonito. Falta de prática. Ou de paciência. Acredito ser o descompasso uma metáfora de outras coisas, por sorte não apenas na minha vida. A mandioca é a base do "casabe" venezuelano. O coração da "tapioca", alimento brasileiro e parece que oriental, é a farinha de mandioca preparada de uma forma particular. Dia destes, visitando uma feira no leste da cidade, o gordo e eu encontramos um pacote da farinha. Por se tratar de produto importado, o rótulo apresenta as informações em inglês: Tapioca Starch - Ingredients: Tapioca, water. Exporter: Combine Thai Foods Co., Ltd. Net wt: 400 gr. Product of Thailand.
PROVA A: utilizar a farinha direto do pacote. Resultado: crepe com consistência de chiclete, bom sabor, parecido ao da tapioca original. Lembrança: quando comprei aquela sacolinha em Guará o vendedor me disse: "Leve a massa, está hidratada, prontinha para colocar no fogo". Logicamente a levei, a provei e funcionou.
PROVA B (sábia insistência do gordo): pesquisa na internet para ver como se hidrata a farinha, pode ser o passo que falta. Hipótese: estamos frente ao amido.
PROVA C: colocar a farinha numa tigela grande, acrescentar água (a risco de perder o ingrediente principal). Ver o que acontece.
PROVA D: aguardar duas horas, de 20h15 às 22h15.
PROVA E: jogar fora a água e secar a farinha. Por incrível que pareça, não perdimos a farinha. Sem saber o que devia se fazer, colocamos o preparado sobre um pano e observamos como a massa -dura ao tato- nem estava tão molhada nem estava tão longe do objetivo.
PROVA F [6a. feira à tarde]: com a farinha seca, triturar o equivalente a duas preparações num pilão. Espalhar com uma peneira sobre uma frigideira previamente amanteigada. Na mão se o truque da peneira não funcioanr. Observar o efeito da chama. Se as pontas levantam, há uma tapioca na nossa frente. Parece cena de filme romântico: se ela/ele se vira, me quer. Acrescentar o recheio numa das metades. Dobrar. Experimentar.
RESULTADO PRIMÁRIO/TANGÍVEL: sucesso avassalador de duas tapiocas, cada uma no seu prato, arredondadas a falta de um termo mais exato, recheadas com "queso telita". Mistura inusitada de curiosidade, paciência, espírito científico e amor.
[1 de 365] - product of Thailand
Dar continuidade a um fascinante experimento gastronômico e que resulte em algo comestível, presentável e alegre para o gosto. Levo um chef na minha cabeça mas quando vou colocar a teoria a prova, o resultado não fica nem tão saboroso nem tão bonito. Falta de prática. Ou de paciência. Acredito ser o descompasso uma metáfora de outras coisas, por sorte não apenas na minha vida. A mandioca é a base do "casabe" venezuelano. O coração da "tapioca", alimento brasileiro e parece que oriental, é a farinha de mandioca preparada de uma forma particular. Dia destes, visitando uma feira no leste da cidade, o gordo e eu encontramos um pacote da farinha. Por se tratar de produto importado, o rótulo apresenta as informações em inglês: Tapioca Starch - Ingredients: Tapioca, water. Exporter: Combine Thai Foods Co., Ltd. Net wt: 400 gr. Product of Thailand.
PROVA A: utilizar a farinha direto do pacote. Resultado: crepe com consistência de chiclete, bom sabor, parecido ao da tapioca original. Lembrança: quando comprei aquela sacolinha em Guará o vendedor me disse: "Leve a massa, está hidratada, prontinha para colocar no fogo". Logicamente a levei, a provei e funcionou.
PROVA B (sábia insistência do gordo): pesquisa na internet para ver como se hidrata a farinha, pode ser o passo que falta. Hipótese: estamos frente ao amido.
PROVA C: colocar a farinha numa tigela grande, acrescentar água (a risco de perder o ingrediente principal). Ver o que acontece.
PROVA D: aguardar duas horas, de 20h15 às 22h15.
PROVA E: jogar fora a água e secar a farinha. Por incrível que pareça, não perdimos a farinha. Sem saber o que devia se fazer, colocamos o preparado sobre um pano e observamos como a massa -dura ao tato- nem estava tão molhada nem estava tão longe do objetivo.
RESULTADO PRIMÁRIO/TANGÍVEL: sucesso avassalador de duas tapiocas, cada uma no seu prato, arredondadas a falta de um termo mais exato, recheadas com "queso telita". Mistura inusitada de curiosidade, paciência, espírito científico e amor.
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