viernes, septiembre 17, 2010

[pequenos prazeres | pontapé]

Sexta-feira é um bom dia para começar uma jornada anual. Dias atrás pensei em empreender este projeto para contestar um down profundo que ao invés de passar (pois não passa), sinto transparecer em cada ação que acometo. Com receio de esquecer um poderoso aprendizado, lanço mão da língua portuguesa (pre-acordo ortográfico) apesar de não ser o meu berço natural. Por que -me perguntava- não criar um "diário de pequenos prazeres" talvez tendo em mente [em corpo, alma e verbo] a claridade de ao menos um bem-estar diário? Talvez apostando que a núvem passe e deixe o céu claro, sem pressão de tempo estipulado. O adjetivo "pequeno" não qualifica a intensidade da vivência. Pequenos são não por insuficientes mas por rotineiros. Comentar a vida intra-muros também não é a minha praia. O "mar" do meu nome fala do paradoxo vivente que sou: adoro me comunicar bem (tentar entender e tentar explicar) mas chego a ser tão contida que meus familiares adquiriram o dom da especulação bem-direcionada. Não pretendo reproduzir a fórmula "eu, eu, eu" mas as possibilidades do diário, dada a circunstância, não vêm mal. Quero avaliar minha persistência e, sobretudo, observar essa capacidade mágica de renovação que mora em todo ser humano. A extensão do texto fica por conta do universo. É a pauta sem pauta. A foto não é obrigatória mas como adoro esse diálogo, postarei testemunho visual quando o tempo o permita. Pronto, falei. Escreverei aqui ao invés e ligar ou enviar pedidos de auxílio a cálidos interlocutores. O dia é hoje e aqui vai o prazer inicial:

[1 de 365] - product of Thailand
Dar continuidade a um fascinante experimento gastronômico e que resulte em algo comestível, presentável e alegre para o gosto. Levo um chef na minha cabeça mas quando vou colocar a teoria a prova, o resultado não fica nem tão saboroso nem tão bonito. Falta de prática. Ou de paciência. Acredito ser o descompasso uma metáfora de outras coisas, por sorte não apenas na minha vida. A mandioca é a base do "casabe" venezuelano. O coração da "tapioca", alimento brasileiro e parece que oriental, é a farinha de mandioca preparada de uma forma particular. Dia destes, visitando uma feira no leste da cidade, o gordo e eu encontramos um pacote da farinha. Por se tratar de produto importado, o rótulo apresenta as informações em inglês: Tapioca Starch - Ingredients: Tapioca, water. Exporter: Combine Thai Foods Co., Ltd. Net wt: 400 gr. Product of Thailand.

PROVA A: utilizar a farinha direto do pacote. Resultado: crepe com consistência de chiclete, bom sabor, parecido ao da tapioca original. Lembrança: quando comprei aquela sacolinha em Guará o vendedor me disse: "Leve a massa, está hidratada, prontinha para colocar no fogo". Logicamente a levei, a provei e funcionou.

PROVA B (sábia insistência do gordo): pesquisa na internet para ver como se hidrata a farinha, pode ser o passo que falta. Hipótese: estamos frente ao amido.

PROVA C: colocar a farinha numa tigela grande, acrescentar água (a risco de perder o ingrediente principal). Ver o que acontece.

PROVA D: aguardar duas horas, de 20h15 às 22h15.

PROVA E: jogar fora a água e secar a farinha. Por incrível que pareça, não perdimos a farinha. Sem saber o que devia se fazer, colocamos o preparado sobre um pano e observamos como a massa -dura ao tato- nem estava tão molhada nem estava tão longe do objetivo.

PROVA F [6a. feira à tarde]: com a farinha seca, triturar o equivalente a duas preparações num pilão. Espalhar com uma peneira sobre uma frigideira previamente amanteigada. Na mão se o truque da peneira não funcioanr. Observar o efeito da chama. Se as pontas levantam, há uma tapioca na nossa frente. Parece cena de filme romântico: se ela/ele se vira, me quer. Acrescentar o recheio numa das metades. Dobrar. Experimentar.

RESULTADO PRIMÁRIO/TANGÍVEL: sucesso avassalador de duas tapiocas, cada uma no seu prato, arredondadas a falta de um termo mais exato, recheadas com "queso telita". Mistura inusitada de curiosidade, paciência, espírito científico e amor.

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